Há dez dias, o youtuber paranaense Felca publicou um vídeo denunciando a adultização e erotização de crianças nas redes sociais. O conteúdo, que já ultrapassa dezenas de milhões de visualizações, rompeu a lógica passageira da viralização e alcançou o centro do debate público brasileiro.
A repercussão foi imediata: mais de 30 projetos de lei já foram apresentados no Congresso Nacional com foco na proteção de menores no ambiente digital. O tema, no entanto, revelou um dilema político inesperado, especialmente para a extrema direita.
De um lado, parlamentares ligados a esse campo ideológico defendem abertamente o combate à pedofilia e à sexualização infantil. De outro, se posicionam contra qualquer tipo de regulamentação das plataformas digitais, associando-a a censura. Essa contradição veio à tona após a viralização do vídeo de Felca.
Entre os primeiros a se manifestar, nomes como Nikolas Ferreira (PL-MG), Marcel van Hattem (Novo-RS) e a senadora Damares Alves (Republicanos-DF) declararam preocupação com as denúncias. Poucos dias depois, o tom mudou: passaram a enxergar nas discussões sobre regulação digital uma possível manobra da esquerda para controlar o discurso nas redes.
O próprio vídeo, contudo, expõe o funcionamento de um ecossistema sem regras claras. Felca mostrou como é possível criar um perfil do zero e, a partir de interações simples, receber do algoritmo recomendações de conteúdos com menores em situações erotizadas. A dinâmica revela como a lógica de engajamento pode estimular práticas criminosas.
Para especialistas, a ausência de regulação fortalece um mercado que lucra com a circulação desse tipo de material. “A regulação não resolve tudo, mas quando a regulação não avança, o mercado dita as regras. E o mercado disse que a atenção a esses conteúdos é boa para os negócios. Criamos uma economia ao redor disso. O Estado tem que combater essa economia. Tem gente ganhando dinheiro com isso”, afirmou Fabro Steibel, diretor-executivo do Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio de Janeiro (ITS Rio).
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No centro da discussão está uma questão essencial: como proteger crianças em um ambiente digital regido por interesses econômicos e políticos? Se por um lado a defesa da infância é um consenso, por outro, o caminho para garantir essa proteção divide opiniões.
tpower – @portaltpower
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